O Brasil tem grandes exemplos de líderes mulheres em diferentes contextos, porém a realidade ainda é aquém quando o foco é liderança de negócios. No setor de franquias, apenas 19% das 3 mil redes de franquias brasileiras são lideradas por mulheres, segundo levantamento feito pelo Portal do Franchising e divulgado em setembro de 2023 pela ABF (Associação Brasileira de Franchising). Mas se a liderança feminina nas franqueadoras ainda é pouco representativa, o potencial para as mulheres serem franqueadas a uma rede é equilibrado. Entre as unidades franqueadas, 48% das pessoas que buscam uma franquia são mulheres, de acordo com os dados divulgados pelo portal.
E para fortalecer o empreendedorismo feminino e impulsionar mais mulheres a terem o próprio negócio, conheça as piores frases que 22 líderes de franquias escutaram durante a trajetória empreendedora e saiba como elas lidaram com isso, fazendo dos comentários um trampolim para o sucesso.
Gracielle Pacheco, franqueada e gerente de relacionamento da Total Clean
Frase: "Cadê o técnico? Quem dá o treinamento?"
São as frases ouvidas por Gracielle Pacheco, 40 anos, gestora de relacionamento da rede Total Clean e franqueada de quatro unidades nas regiões de Piracicaba, em São Paulo, Governador Valadares em Minas Gerais, Cuiabá e Várzea Grande, no Mato Grosso. Ela conta que essa dificuldade é uma barreira muito grande no ramo de serviços, principalmente porque na limpeza de estofados a mão de obra é predominantemente masculina. Responsável por ministrar treinamentos, Gracielle chegou a ouvir perguntas como “Cadê o técnico?” “Quem vai dar o treinamento?”, além de lidar com a resistência do profissional que não aceitou muito bem o fato de ser ensinado por uma mulher, apesar da situação não se intimidou e conduziu o treinamento. “São situações que enfrento no dia a dia, e consigo contornar essa barreira. Hoje possuo quatro unidades da Total Clean, e lidero uma equipe formada por sete homens”, comenta.
Yumi Tamashiro, franqueada da Cuor di Crema, gelateria artesanal de método italiano
Frase: “Se você abrir mais um botão da camisa, fechamos o negócio hoje mesmo”
No mercado de trabalho desde os 20, a empresária paulistana Yumi Tamashiro, hoje aos 27, já lidou com diversas situações sexistas. Há cerca de quatro anos, numa reunião apenas com homens, ouviu de um dos presentes uma das piores abordagens da carreira, insinuando que a imagem corporal da jovem teria algo a ver com a discussão profissional em vigor. “Naquele momento entendi quão machista é o mundo dos negócios e como nós, mulheres, precisamos ser sempre muito mais sérias que eles. Nos provar cada vez mais para que este tipo de coisa não aconteça”. Além disso, na rotina da própria empresa, a gelateria Cuor di Crema, no bairro Moema, Zona Sul da capital paulista, frequentemente ainda lida com frases do tipo “Posso falar com o responsável?”, ao que Yumi responde que é ela a dona e responsável pelo negócio. Ou o clássico “Você passa muito tempo trabalhando. Devia se dedicar mais à vida pessoal, namorar, casar… O tempo está passando”. Quanto a isto, a empresária reforça que tem ciência da importância de balancear a vida, mas que atualmente sua prioridade é a carreira. “Este é o momento de me dedicar ao meu negócio. Primeiro eu preciso ter a minha estabilidade, para depois construir família. E ter um negócio não me priva de nada”, finaliza.
Ellen Fernandes, fundadora e CFO da Red Fitness, rede de academias
Frase: “É imprudente largar a CLT para abrir um negócio que não é a sua área”
A história de empreendedorismo de Ellen Fernandes, 39 anos, fundadora da Red Fitness, começou quando topou investir em sua própria rede de academias ao lado do marido enquanto ainda era enfermeira e empregada em regime CLT em dois empregos. A empresária conta que uma das frases que mais ouviu nesse processo de transição de áreas é que seria imprudência de sua parte trocar a carteira assinada por um negócio paralelo a sua área especializada. “Ouvir isso me afetou no começo porque eu já tinha minha carreira sólida e trocar o certo pelo “duvidoso” era um risco. Além disso, naquela época, a área de educação física era banalizada e se referia muito aos homens, então sempre me falaram que largar minha profissão para me aventurar em um mundo predominantemente masculino, não era uma boa opção”, conta. Hoje, CFO da própria empresa, Ellen explica que esse tipo de comentário pode afetar qualquer pessoa, mas sempre soube lidar com comentários machistas. “Os homens ainda detêm grande parte da liderança no mundo dos negócios, mas sempre consegui me impor de forma respeitosa principalmente no fitness que são poucas mulheres atuando na linha de frente”, explica a empreendedora que deixa seu conselho para todas as mulheres “Saiba seu valor como mulher, se imponha quando necessário e saiba entrar e sair de qualquer ambiente ou situação com respeito, elegância e equilíbrio”, aconselha.
Sarita Meiryellen Oliveira de Andrade, enfermeira esteta e franqueada Emagrecentro da unidade Nova Serrana (MG)
Frase: “Quero ver como você vai fazer para pagar as contas”
Esta foi a frase que Sarita, 37 anos, ouviu quando decidiu se separar do marido, pondo fim a um relacionamento abusivo de sete anos, que incluiu agressões psicológicas, verbais e físicas. “Confesso que chorei a madrugada toda, me questionando como havia me permitido viver tantas humilhações. Mas não desanimei, mesmo sem dinheiro, corri atrás de trabalhar mais para que eu e minha filha sobrevivêssemos”, conta a enfermeira. Ela trabalhava em hospital no período noturno e começou a oferecer serviços estéticos em uma sala emprestada durante o dia, inclusive aos fins de semana e feriados. “O salário do hospital só dava para as contas fixas da casa. Tive muito apoio dos meus amigos quando decidi empreender. Comecei fazendo limpeza de pele, depois estética corporal e capilar. Atendia todos os dias, após plantão de 12 horas, não tinha tempo ruim”, completa. Após um tempo, uma colega de faculdade ofereceu sua parte em uma unidade do Emagrecentro: “Comprei sem ter dinheiro, sem cheque, sem empréstimo, sem contrato, sem nota promissória. Ela me vendeu apenas confiando em mim e em nossa amizade”, comenta Sarita. Mais tarde, ela decidiu vender a sua parte e se mudar com sua filha para uma cidade onde não conhecia ninguém, a fim de começar a vida do zero. Abriu sua própria clínica do Emagrecentro e, hoje, é uma empresária de sucesso. “A frase dita com tanto ódio, lançada visando acabar com o resto de mim que ainda resistia, foi o gatilho que eu a usei para me reconstruir”, finaliza a empreendedora.
Camila Miglhorini, CEO e fundadora da Mr. Fit, rede pioneira em fast-food de alimentação saudável no Brasil
Frase: “Seu sócio está?”
Com experiência no setor de franquias e de alimentação, Camila Miglhorini, 40 anos, estudou e se preparou para se tornar empresária, no entanto, no início da jornada enfrentou desafios por ser mulher. “Não me davam credibilidade, sempre de alguma forma perguntavam se tinham algum homem envolvido com o negócio”, conta. Na época, para tentar contornar essa percepção e se blindar de cantadas e comentários desnecessários, a empresária, que era solteira, passou a usar uma aliança falsa. “Hoje eu rio da situação, mas infelizmente o anel foi necessário para impor mais respeito. E funcionou”. Camila, que hoje tem mais de 500 lojas espalhadas pelo país, explica que a melhor maneira de superar o preconceito contra mulheres empreendedoras é ignorar os comentários desagradáveis, acreditar no potencial e relevância do seu trabalho e se apoiar em outras mulheres do ramo. “Criar uma rede de conexão e suporte com outras mulheres do setor ajuda a enfrentar os desafios da jornada”, finaliza.
Roberta Bellumat, franqueada e gestora da rede de franquias, da Padrão Enfermagem
Frase: “Nem é sua área, está sendo influenciada pelo seu marido”
Após o seu casamento com um enfermeiro, aos 28 anos, a franquia Padrão Enfermagem entrou na vida da Roberta Bellumat, hoje com 38 anos, e mãe de um filho de 3 anos. Sempre ouvia de sua família que não devia “abaixar a cabeça para ninguém” e isso foi determinante para sua evolução como pessoa. Todo seu tempo e esforços foram dedicados para que o negócio fosse um sucesso, mas logo no início ouviu frases desmotivadoras como: “O que você entende de administração?”, “Nem é sua área, está sendo influenciada por seu marido”, “Seu marido não reclama de você trabalhar tanto?”, entre outras. Esses questionamentos fizeram a profissional abraçar ainda mais o desafio e se dedicar ao negócio. Após 10 anos como franqueada da Padrão Enfermagem, o fundador da marca, Rafael Schinoff a convidou para assumir a gestão da rede de franquias ao seu lado, que é o seu cargo atual. “Essas frases que ainda escuto me enchem de orgulho da mulher que me tornei, amo minha família e meu trabalho, por isso nada é um fardo, tudo é uma questão de perspectiva. Quem é mulher sabe que somos capazes de tudo, e ainda assumimos as várias funções com competência e em cima do salto alto”, comenta.
Jucelaine Alvarenga, vice-presidente da Help Multas, rede de franquias especializada em recursos de multas de trânsito, processos de suspensão e cassação da CNH
Frase: “Não seja louca de trocar o certo pelo duvidoso”
Enquanto estava no início da jornada empreendedora, ainda em paralelo ao serviço público de servidora do Poder Judiciário, Jucelaine Alvarenga, de 35 anos, ouvia que empreender era loucura e que não deveria trocar o que já era certo por algo que nem sabia se daria certo. “Quando comentava do desejo de pedir a exoneração para empreender ouvia frases como “não seja louca de trocar o certo pelo duvidoso” ou então “no serviço público tem estabilidade, é loucura sair de algo que tanta gente se esforça para entrar”. As pessoas não estavam completamente erradas, de fato o serviço público tinha sido uma excelente opção até então, porém ao buscar conhecimento eu evolui, eu cresci e o concurso continuava do mesmo jeito. Foi quando tapei os ouvidos para todas essas frases e pedi exoneração para empreender e fundar o que é hoje a maior rede de franquia no segmento de multas de trânsito”, afirma a empresária.
Lilian Cláudia S. Rocha, franqueada do market4u, rede de mercados autônomos que opera dentro de condomínios comerciais e residenciais
Frase: “Isso é serviço para homem”
Após mudar do Paraná para o estado de São Paulo e ficar sete anos afastada do mercado de trabalho, a ex-coordenadora de vendas, Lilian Cláudia S. Rocha, hoje com 37 anos, encontrou no market4u uma oportunidade de ter a própria renda. Após inaugurar seu primeiro PDX (ponto de experiência), na cidade de São Paulo e ter que fazer o reabastecimento de mercadorias sozinha, ouviu frases como “você não queria? Agora dá conta” e “isso é serviço para homem”. Embora as locuções fossem desmotivadoras, Lilian seguiu em frente e hoje, com cinco unidades do market4u, fatura, em média, R$ 140 mil por mês. “Eu provei que esse tipo de afirmação está errada com resultados e hoje, estou melhor do que mundo homem por aí, inclusive, tenho muitos síndicos e incorporadoras que me procuram para eu atender os condomínios”, conta Lilian.
Juliana Pitelli, Sócia e Gestora de Expansão da Maria Brasileira, rede de limpeza residencial e empresarial.
Frase: “Vai ficar rica, mas vai ficar sozinha, ninguém vai conseguir te aturar”
O caminho do sucesso trilhado por Juliana Pitelli, hoje com 45 anos, foi marcado por frases desmotivadoras, mas que para ela serviram como incentivo para não desistir de conquistar tudo o que almejava para sua carreira profissional e, em menos de uma década, a mulher que conciliava o emprego de garçonete de pizzaria com o de vendedora, tornou-se sócia da maior rede de limpeza residencial do país, a Maria Brasileira. “Muitas pessoas falavam que não era para me desgastar tanto, já que sempre trabalhei muito e não tinha horário. A carreira executiva para a mulher é muito cruel, principalmente porque, na maioria das vezes, nós trabalhamos muito e geralmente não somos reconhecidas. Então me falaram para tomar cuidado com o desgaste, para não acabar colhendo frutos negativos disso.Também ouvia que estava gastando energia demais com a empresa que ia ficar rica, mas sozinha, que ninguém ia conseguir me aturar ou que esse tipo de negócio estava fadado ao fracasso, porque ninguém consegue trabalhar com mão de obra. Para mim, isso foi um incentivo. Hoje eu tenho uma família muito bem constituída, minha filha e meu marido sempre me apoiaram. Foi um momento de desgaste, em que a empresa precisava de um acompanhamento muito mais próximo, mas que não me arrependo. O negócio brilhou e essa dor de mercado que todo mundo enxergava da mão de obra é o que faz o sucesso da Maria Brasileira. Eu priorizava muitas vezes a minha carreira e trabalho porque aquilo me trazia satisfação e eu tinha um propósito por trás, que era de fazer essa rede crescer”, explica Juliana.
Ana Paula Benisio, especialista em liberação de créditos e franqueada CredFácil da unidade de Paracatu (MG)
Frase: “Você é louca, saiu da gerência de uma loja para investir nesse negócio?! É um nicho masculino, não vai te render nada.”
Ana Paula Benisio, 39 anos, casada e mãe de dois filhos, vem de uma família humilde. Ela iniciou sua jornada profissional como empregada doméstica e, posteriormente, trabalhou como caixa em um supermercado. Aos 29 anos, ingressou na faculdade de Administração de Empresas e foi promovida a gerente da loja de motocicletas na qual trabalhava. “Em 2016, surgiu a oportunidade de abrir minha primeira empresa como representante de uma marca, não hesitei, me arrisquei mesmo com todos dizendo que eu era louca de largar um bom emprego para começar do zero e sem nenhum recurso financeiro”, comenta Ana Paula. Sua jornada empreendedora cresceu com a parceria de seu esposo. Durante a pandemia, adaptou seus negócios para o trabalho remoto e expandiu seu portfólio, incluindo a CredFácil. “Atualmente, possuímos três empresas de destaque na cidade, me especializei em Gestão Empresarial e fui co-autora do meu primeiro livro neste ano de 2023. Sou mulher empreendedora e tenho muitos outros sonhos a realizar, sou feliz e grata por cada desafio que me fez ser quem sou hoje”, finaliza Benisio.
Rejane Mishima, franqueada CleanNew, rede de franquias de higienização e conservação de estofados da unidade de Campo Grande- MS
Frase: “Mulheres não sabem tocar empresas, isso é coisa de homem”
Muitas foram as frases de desestímulo que Rejane Mishima, de 42 anos, ouviu quando resolveu empreender. Há seis anos no comando da operação de Campo Grande (MS), a franqueada da CleanNew afirma que, por ser uma mulher à frente do negócio, teve que lidar com muitas opiniões negativas. “O Mato Grosso do Sul está migrando sua economia de agro para agroindustrial, fruto de um planejamento estratégico que vem sendo realizado para industrializar o estado. Frente a esse contexto, temos uma sociedade muito presa a valores antigos em que muito se pensa que as mulheres não têm perfil para empreender e liderar. Já ouvi muito que mulheres não sabem tocar empresas, “que isso é coisa de homem, porque mulheres são muito boazinhas e frágeis”, banalizando exatamente o que as mulheres têm como pontos fortes que são a disciplina, persistência e sensibilidade no trato das questões”, destaca a franqueada.
Riamy Cavalcante, franqueada da Lavô, maior rede de lavanderias self-service do país, em Manaus (AM)
Frase: “Você não vai conseguir”
Quando decidiu largar a carreira de advogada para empreender, Riamy Cavalcante, 35 anos, precisou enfrentar uma série de opiniões contrárias a sua escolha. Multifranqueada da Lavô, ela gerencia duas operações em Manaus (AM) e, até o fim do ano, estará à frente de mais duas. “No início essas frases desmotivam, é difícil enfrentar os desafios que estão à frente e olhar para o lado e não ver ninguém. Foi um processo de espelho, espiritualidade e perseverança. Mas quando você olha com frieza, é isso, está sozinha. Então, tudo depende de você e você é capaz de tudo, desde que invista e se dedique. Quanto mais internaliza a sua força, maior fica, então a superação ajuda a criar a evolução”, afirma Riamy.
Natali Nunes, franqueada da Anjos Colchões e Sofás, nas cidades de Rio Claro e Paulínia, interior de São Paulo
Frase: “Mas, sem nenhuma experiência vai ser difícil dar certo”
Natali Nunes, 50 anos, é mãe de dois filhos, e durante sua trajetória profissional precisou lidar com apontamentos que poderiam desmotivar o início de sua empreitada. Ela chegou a ouvir frases como “Tenho pena de você por abrir algo nessa crise”, “Nossa! Mas, já tem várias lojas nas cidades” e “Mas, sem experiência nenhuma de empreender é difícil dar certo”. Mas, ela não desistiu, hoje é franqueada de duas unidades da rede Anjos Colchões e Sofás, ambas no interior do estado de São Paulo, nas cidades de Rio Claro e Paulínia. “Esses comentários me deram mais força para provar o contrário, e acredito que sempre devemos tentar e acreditar em nosso trabalho. E, claro, aprender a lidar com os comentários, absorver os bons e deletar os ruins”, comenta.
Gabriela Bottoni, multifranqueada da Minha Quitandinha, rede de minimercados autônomos, em Osasco (SP)
Frase: “Precisa tomar cuidado com o seu negócio, viu”
Para Gabriela Bottoni, 48 anos, multifranqueada da Minha Quitandinha, rede de minimercados autônomos, há 2 anos e 5 meses, o empreendedorismo chegou durante a pandemia de Covid-19, após mais de 20 anos de carreira na área de recursos humanos. Entretanto, a tomada de decisão para se tornar empreendedora trouxe olhares e comentários nada confortáveis sobre o caminho a ser percorrido. “As pessoas me falavam para tomar cuidado com o negócio, porque o retorno não era algo fixo como dentro do trabalho formal, com o salário no dia certo, benefícios e outros aspectos do mercado de trabalho. Mas eu nunca pensei dessa maneira, porque sempre entendi que meu trabalho gera retorno a partir da minha performance, e quando a gente se dedica no próprio negócio, empenhamos mais força e geramos resultados para nós mesmos, da mesma maneira que gerava quando estava no mercado de trabalho”, afirma.
Ketty de Jesus, sócia-fundadora da Yes! Cosmetics
Frase: “Já ouvi diversos comentários depreciativos sobre a minha competência pelo fato de ser mulher”
Ketty de Jesus, 55 anos, co-fundadora da rede de cosméticos veganos Yes! Cosmetics iniciou sua carreira na área vendendo produtos de beleza de porta em porta para complementar a renda familiar. Em determinado momento, ela começou a ganhar mais como vendedora, que era um extra, do que como professora de educação física (sua profissão na época). Em cinco anos, já como distribuidora, conquistou sete mil revendedores. Hoje, à frente da própria empresa ao lado do marido e o cunhado, Ketty conta que já ouviu muitos comentários depreciativos que recebeu por ser mulher e transformou cada um em uma oportunidade de crescer e se tornar uma profissional melhor. “Aprendi a lidar com eles, me impondo profissionalmente, não existe nada melhor do que mostrar sua competência. Com o tempo, fui ganhando cada vez mais confiança e segurança no trabalho, isso me ajudou a defender minhas ideais”, explica. Para a empresária, esses tipos de comentários são capazes de desencorajar. “Não desista, estude e se capacite. Não importa qual é a sua área, seja uma profissional segura de suas funções e decisões. Não existe nada melhor do que contra-argumentar críticas que não são produtivas com sabedoria e educação”, aconselha.
Arianne Bastos, sócia e fundadora do Mané, rede de botecos metido a chique
Frase: “Você nunca poderá sentar numa mesa com homens para negociar, você nunca será aceita nessa situação."
Essa foi uma das frases mais marcantes na jornada da empresária Arianne Bastos, 41 anos, que deixou a carreira pública para apostar no próprio negócio ao lado de dois amigos. Ela conta que não foi fácil lidar com comentários desse tipo, mas encontrou uma maneira de neutralizá-los. “Procuro absorver de forma que diga muito mais sobre eles do que sobre mim”. O negócio de Arianne decolou e é sucesso no Rio de Janeiro, mas ela ainda enfrenta posicionamentos inadequados e exclusões pelo fato de ser mulher. “Fica claro que a minha presença assusta ou, talvez, afronta, porém sigo sem desistir, sempre deixando meu legado e sem cair no esquecimento”, finaliza.
Fátima Moraes, franqueada Ecoville da unidade de Itapema (SC)
“Vai largar o emprego para empreender numa lojinha? E ainda com filho pequeno?”
Fátima, de 38 anos, sempre teve o sonho de empreender, e conseguiu realizar esse sonho no ano de 2014, aos 29 anos. Um ano antes, ela estava grávida da sua primeira filha e quando saiu de licença maternidade, resolveu que não voltaria mais para o emprego e iria empreender. Logo no início do negócio, ela sentiu o preconceito em ser uma mulher no mundo do empreendedorismo. “Muitas vezes, eu ouvia comentários como: ‘Você sobrevive dessa lojinha?’ Falando do seu sonho como algo pequeno ou não importante”, comenta a empresária. Mas isso só fez com que ela quisesse transformar a sua “lojinha” em algo grande. Quatro anos depois, o seu negócio expandiu para uma loja com mais de 300 m² e um depósito de 1.000 m², com mais de 10 funcionários e faturamento de R$ 500.000,00 por mês. Durante esse período, ela teve o seu segundo filho também, e, hoje, Fátima se sente realizada com a sua família e a sua loja.
Jéssica Vasconcellos, sócia-administradora das unidades de São Lourenço (PE) e Goiana (PE) da Ultra Cursos
“Como mulher, você terá dificuldade para liderar uma empresa.”
Essa frase foi o que Jéssica, de 29 anos, escutou logo quando começou a empreender na sua primeira unidade da franquia Ultra Cursos. “Acreditavam que, pelo fato de ser um ramo com maior presença de homens, eu, enquanto mulher, não iria conseguir valer a minha autoridade como dona do negócio”, comenta Vasconcellos. Contudo, isso não desanimou a empreendedora que, com pulso firme e muito profissionalismo, começou a cada vez mais melhorar os resultados de seus empreendimentos. “Foquei em estabelecer uma boa comunicação com a minha equipe e escolher as melhores pessoas para trabalhar ao meu lado”, explica Jéssica. A empreendedora afirma que a diferença entre uma boa ou má gestão não está ligada ao sexo, mas sim em saber exercer a sua autoridade com humildade, motivando e não amedrontando seus funcionários.
Pollyana Rangel, franqueada da Mais1.Café, uma das maiores redes de cafeterias do Brasil, em Juiz de Fora (MG)
Frase: “Você é mãe agora. Não vai conseguir dar conta de tudo”
Franqueada há 3 anos da Mais1.Café, uma das maiores redes de cafeterias do Brasil, Pollyana Rangel, 37 anos, encara os desafios do empreendedorismo e da maternidade ao mesmo tempo. Mãe de um menino de 6 anos, Pollyana leva uma rotina bem articulada para expandir a sua atuação na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e acompanhar o crescimento do filho. Entretanto, logo quando começou a empreender, ela ouviu muitas vezes que não iria conseguir dar de conta de tudo. “Como assim? Uma mãe não pode empreender?” Mas, de acordo com a empreendedora, foi justamente a maternidade que impulsionou a sua vontade de investir e ter sucesso com o próprio negócio. “É pelo meu filho que eu estou aqui, enfrentando todos os desafios desse mundo. E a cada dificuldade, eu penso nele e tiro forças pra continuar pra poder provar pro mundo que uma mulher consegue sim, ser mãe, e empreendedora, e ser o que ela quiser! A maternidade inclusive me ensinou sobre força, e resiliência no mundo empreendedor”, afirma.
Carina Mendonça, multifranqueada da Casa de Bolos, a maior rede de franquias de bolos do Brasil e pioneira no segmento, em Dourados (MS)
Frase: “Gestão de negócio não é para mulheres”
Já para Carina Mendonça, 51 anos, multifranqueada da Casa de Bolos, a maior rede de franquias de bolos do Brasil e pioneira no segmento, para chegar no empreendedorismo e na parceria de sucesso com a rede, que já dura 11 anos, precisou passar por muitas outras atividades, principalmente em cargos de gestão, no qual desenvolveu suas habilidades para comandar as suas 5 lojas da franquia no estado de Mato Grosso do Sul. De acordo com a franqueada, os desafios empreendedores sempre foram grandes, mas ela conseguia lidar com cada um deles graças às situações que ouviu no passado, principalmente com foco na gestão de pessoas. “Antes de empreender, trabalhei como responsável por soluções e serviços de uma empresa de manutenção. Em um lugar repleto de homens, ouvia muito que não conseguiria gerenciar e orientar os colaboradores, porque cargos de gestão não são para mulheres, logo iria desanimar”. Mas, apesar deste episódio, Carina conta que aprendeu muito e levou esse ensinamento para suas lojas. “Essa experiência me fez entender muito mais como cuidar dos meus colaboradores, mantê-los motivados e sempre incentivá-los a chegar cada vez mais longe, indo totalmente contra aos comentários que um dia ouvi”, compartilha.
Dra Aline Médici, diretora-executiva da Ad Clinic, rede de clínicas de estética
Frase: “Você não vai conseguir por ser mulher”
A biomédica Aline Médici, 33 anos, aponta que em pleno XXI, as mulheres ainda são consideradas sexo frágil e por isso precisam provar a sua capacidade o tempo todo. “Além de sermos boas empreendedoras, também precisamos ser uma boa mãe e boa esposa e se falharmos em algum desses quesitos, já nos rotulam como fracas”, analisa. Hoje, ao lado do marido, Médici comanda a própria rede de clínicas de estética com mais de 100 operações pelas principais cidades e capitais do Brasil, e revela que já lhe falaram que não conseguiria chegar onde chegou por ser mulher. “Ouvir esse tipo de comentário me fortaleceu. As pessoas que não acreditaram que eu conseguiria, tinham propósitos de vida bem diferentes do meu, então optei por me inspirar apenas naqueles que já conquistaram o patamar que eu almejava”, conta. Durante toda sua trajetória empreendedora, se manteve como a mulher otimista que sempre foi transformando dificuldades em oportunidades e reforça para todas as mulheres nunca desistirem de seus sonhos. “Uma das frases que me motivaram foi do Walt Disney: se você pode sonhar, você pode realizar”, aconselha.
Mayra Cristine de Oliveira, multifranqueada da OrthoDontic, maior rede de franquias de ortodontia do Brasil
Frase: “Geralmente mulheres precisam de apoio, pois não sabem ser racionais, firmes e agem sempre pela emoção”
Franqueada da OrthoDontic, Mayra Cristine de Oliveira, 34, diz que as mulheres estão vivendo em um mundo que se deparam com alguns comentários que desafiam sua capacidade profissional pelo simples fato de serem mulheres. “Ao longo da minha carreira sempre escutei comentários como: “não sei por que você irá empreender em um negócio. Geralmente mulheres precisam de apoio pois não sabem ser racionais, firmes e agem sempre pela emoção. Essas foram algumas frases que ela se deparou logo quando decidiu sair da cadeira clínica e alcançar novos voos abrindo a primeira franquia odontológica, mas não parou aí. “Achei que com o passar dos anos e com os frutos que pude colher sendo empreendedora isso me livraria de mais comentários negativos. Afinal, é assim que geralmente somos aceitas, quando damos bons resultados e mostramos nossa produtividade. Mas não foi isso que aconteceu. Assim que me casei vieram mais comentários como: “você vai casar? Mas não terá tempo para seu marido e sua casa. Se continuar à frente das empresas vai ter que reduzir o tempo para cuidar do lar ou vai acabar ficando sem seu marido, homem precisa de cuidado e zelo”. Quando engravidou do primeiro filho, continuou ouvindo mais frases cruéis: “Não posso ser bem sucedida nas duas áreas? Não há disputa entre empreender e seguir casada, com filhos e feliz. Afinal, somos seres incríveis e para ser empreendedora não preciso abrir mão de ser eu . Podemos sim ser bem sucedidas em várias áreas ao mesmo tempo e ocupar diferentes lugares, espaços e sermos felizes em todos eles”, afirma.