A Raiva é uma emoção que atinge o nosso corpo, o nosso trabalho e nossos colegas. Como podemos lidar com ela e ter maior desempenho no trabalho?

No dicionário encontramos o seguinte significado da palavra raiva: comportamento repleto de fúria, demonstrado pelo excesso de agressividade; ... sentimento de irritação; expressão de aversão ou relutância.  ( https://www.dicio.com.br › raiva )

Segundo a definição médica, a raiva é um sentimento que está ligado aos sistemas nervoso central, ao periférico e ao sistema endócrino. Ficamos mais atentos, com as pupilas dilatadas, o cérebro libera o hormônio Cortisol, que gera baixa imunidade e pode provocar tudo o que a pessoa estiver predisposta a ter: gastrite, úlcera, alteração na pressão arterial, problemas cardiovasculares e psicológicos.

As causas da raiva podem estar relacionadas a diversos fatores internos, tais como: traumas do passado; abusos (físicos, psicológicos ou verbais); problemas financeiros ou em relacionamentos; depressão; ansiedade; distúrbios do sono; transtorno de estresse pós-traumático (TEPT); excessiva preocupação com o que os outros pensam sobre você; fracas habilidades de enfrentamento; estresse crônico; transtorno obsessivo-compulsivo (TOC); transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); bipolaridade; transtorno explosivo intermitente; transtorno de personalidade limítrofe; dependência de álcool ou de outras substâncias.

Pesquisas, tanto nas áreas médicas como nas psicológicas, nos mostram que a raiva pode causar maiores riscos de sofrer um ataque cardíaco e desenvolver doenças cardíacas; derrame; enfraquecimento do sistema imunológico (o que aumenta a probabilidade de doenças e mal-estares frequentes); pressão alta; problemas de pele; prejuízos aos pulmões; piora nos sintomas de ansiedade; dores crônicas; problemas de memória; insônia; problemas gastrointestinais; redução da longevidade.

Este sentimento pode estar presente em nosso dia a dia, em qualquer ambiente de trabalho, seja pela falta de colaboração dos clientes, por uma relação ruim com algum colega de empresa ou chefe ou até mesmo motivada por dificuldades pessoais.

A cobrança do chefe, comentário de um colega ou um simples contratempo durante o dia podem causar estresse e fazer com que algumas pessoas reajam de maneira negativa - ou até mesmo agressiva - a qualquer situação.

Algumas pessoas conseguem agir com racionalidade e calma nestes momentos, mas outras simplesmente são movidas de forma impulsiva, levando-as à agressividade.

Não precisamos fugir desse sentimento. A raiva pode ser normal e positiva. É necessária para nossa sobrevivência, nos faz indignar e buscar alternativas. Mas claro que esse sentimento só é saudável quando está sob o nosso controle. Fora de controle, ataca o nosso organismo, podendo trazer os prejuízos à saúde já citados.

No trabalho, o comportamento agressivo frequente compromete a carreira do profissional e contamina os demais colegas que dividem o ambiente de trabalho, prejudicando, assim, todo o desempenho das atividades do dia. 

Atualmente, existem pesquisas direcionadas especificamente à “demissão por raiva” nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Índia, dentre outros países. Todos nos trazem informações relevantes sobre as situações que levam à demissão por raiva, tanto por parte de quem a pede, quanto de quem a realiza.

Em geral, o que se pode constatar, é que as circunstâncias que levam a esse ápice vêm de um histórico construído ao longo do tempo.

Algumas pessoas acumulam insatisfações no trabalho por considerarem que esse trabalho as mantém e que não há opções. Isso acontece principalmente com profissionais menos especializados e/ou em condições sociais mais baixas – o que não elimina, porém, a possibilidade de uma “explosão emocional” que as faça pedir demissão. Em alguns casos, o sentimento de desrespeito é tão intenso, que, mesmo não gerando a explosão do pedido de demissão, leva a problemas de saúde, absenteísmo, improdutividade. Assim, empregadores atentos podem evitar o “abandono” de funcionários prestando atenção nos sinais de advertência citados.

Jovens tendem a pedir demissão muito mais rápido em situações que os levam ao sentimento de raiva. Não só por impulsividade ou imaturidade, mas por pensarem na possibilidade de perda de opções melhores para seu futuro, caso permaneçam investindo seu tempo numa empresa ou emprego que os leva à raiva e insatisfações diárias.

Existem certos padrões recorrentes que podem levar às demissões realizadas com raiva.

Uma das razões mais comuns é a má gestão. A supervisão abusiva pode gerar exaustão emocional. Quando os gerentes deixam de atender às repetidas preocupações dos funcionários, pode acontecer o resultado explosivo com a demissão por raiva. Outros fatores geradores desse tipo de situação podem ser:  mudanças constantes de projetos, cronogramas rigorosos, sobrecarga de trabalho e rejeição de preocupações com segurança.

É sempre preciso ter em mente que o mau tratamento de uma parte alimenta o mau tratamento pela outra. Sabemos que quem começou com a forma agressiva, indiferente, displicente ou de desprezo pode variar entre empregador e empregado, embora o mais comum seja acontecer no sentido vertical dessas relações. 

A pandemia de Covid-19 acabou por intensificar os fatores de tensão que podem levar funcionários a demitir-se de repente. E com raiva.

A segurança tem sido um catalisador frequente para que funcionários que atendem clientes pessoalmente se demitam nessa condição. Uma enfermeira cujos colegas espalhavam informações falsas sobre vacinas; um funcionário de restaurante cujos gerentes escondiam a informação de que a Covid vinha se espalhando entre os funcionários; ou uma vendedora com receio de transmitir o vírus para parentes vulneráveis – todos deixaram seus empregos de forma quase repentina durante a pandemia, expressando com raiva seus temores e inseguranças diante das atitudes de desvelo nos locais em que trabalham.

São inúmeros os motivadores e os sinais de que colaboradores podem pedir demissão por raiva e não conseguiríamos enumerar todos. O fato importante que querermos ressaltar aqui é a necessidade de aprendermos a lidar com a raiva no trabalho, sejamos empregadores ou empregados.

Como lidar com a raiva no trabalho

Sabemos que lidar com a raiva não é fácil em nenhuma situação. Porém, podemos apontar alguns caminhos para lidar com ela, uma vez que todos estamos expostos e senti-la, em algum momento. A questão não é não senti-la, mas sim, como vamos lidar com ela, quando acontecer. A seguir, damos algumas dicas para esse caminho:

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1. Respire e faça uma pausa no foco de pensamento

Não falamos aqui apenas de respirar fundo uma vez, mas três vezes. Inspire lentamente contando até cinco, expire devagar em sete tempos e sopre a pressão no final. Busque pensar em algo racional fora da situação que gera a raiva do momento. Por exemplo, proponha-se uma conta bem difícil, montando-a em sua cabeça. Você não vai precisar resolvê-la, mas o ato de tentar fazê-lo trará o resultado de amenizar a raiva. Você pode, também, tentar lembrar do nome de cindo capitais do Brasil, ou o nome dos sete anões...

Pode parecer sem sentido, à primeira vista, porém, é comprovado pela Neurociência que o ato tão popular da respiração lenta e controlada e a o direcionamento de foco no pensamento para algo racional e desafiador por alguns segundos, efetivamente ajudam a voltar para a racionalidade quando a raiva ataca. Ao respirarmos fundo, oxigenamos o centro cerebral onde a raiva se origina e, buscando um desafio racional fora do foco causador da situação, ajudamos na transferência de centro cerebral, para aquele que construirá a estratégia mais adequada para a situação.

Tudo isso pode durar apenas alguns segundos e vale a pena tentar. Você ficará surpreso com a diferença imediata.

2. Evite confrontos imediatos

Não confronte a pessoa que for o motivo da sua raiva sem antes pensar muito e pesar as possíveis consequências – o que você espera ganhar e o que pode perder com isso?

3. Respeite o prazo de 24 horas

Nunca envie um e-mail ou mensagem sobre a situação nas primeiras 24 horas do ocorrido.

4. Procure alguém para desabar, porém tome cuidado

Tenha muito cuidado ao reclamar com colegas de trabalho. Embora desabafar com outra pessoa na hora da raiva intensa seja uma forma de adiar a ação efetiva em relação a ela, é preciso saber muito bem com quem fazer isso. Algumas pessoas podem nos acolher, outras podem gerar a famosa “rádio peão” e piorar ainda mais as coisas.

5. Volte ao trabalho

Volte para o trabalho, seja ele qual for. Quanto mais intensa sua raiva, mais operacional deve ser a tarefa na qual você deve se concentrar. Reescreva sua lista de obrigações, organize suas anotações, limpe sua mesa, esvazie a sua caixa de e-mails. Quando você se acalmar, poderá enfrentar um trabalho mais desafiador e estratégico.

6. Só você sente essa raiva ou é geral?

Para alguém tentado a demitir-se ou a demitir alguém por raiva, pode ser útil obter uma perspectiva sobre o que existe por trás da raiva, além da gratificação imediata de esfregar isso em um mau chefe ou livrar-se de um colaborador impertinente.

A visão sobre o chefe ou colaborador é geral ou é só sua? Por que outras pessoas não fazem o mesmo em relação a ela?

Queremos finalizar este artigo com algumas frases significativas sobre a raiva:

 “Viver bem é a melhor vingança”. - Provérbio Basco

“A raiva é um ácido que pode causar mais danos ao recipiente em que está armazenada do que a qualquer coisa em que seja derramada.” — Mark Twain

Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em alguém; é você que se queima. – Buda

Eliana Conquista é consultora e psicóloga
Divulgação

Eliana Conquista é consultora e psicóloga



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