Ao longo do último ano, durante minhas aulas, palestras e treinamentos, percebi que um sentimento se tornou muito mais comum entre as pessoas do que costumava ser: a saudade daqueles que se foram, da época que passou, de quando levávamos uma vida “normal”... Enfim, estamos todos com muito mais saudade do que costumávamos sentir ou, pelo menos, assumir.
Há, sim, uma mudança de comportamento. Nas minhas turmas do Processo Hoffman, por exemplo, sempre recebi alunos mais velhos que sentiam saudade da juventude. Eles se lembravam com muito carinho das experiências que viveram quando mais novos e, por vezes, manifestavam um grande desejo de voltar no tempo… “Eu gostaria de viver tudo outra vez”, diziam.
Mas saudade nunca foi algo exclusivo desse grupo. Muitos jovens também olham para trás com certa nostalgia da infância, da época em que tinham menos responsabilidades, dos momentos em que se sentiram inteiramente sob os cuidados dos pais e familiares.
Com a pandemia, o que aconteceu foi que um outro tipo de saudade se tornou muito comum em pessoas de todas as idades, classes sociais e origens. Passamos a compartilhar, com muito mais intensidade, a saudade das pessoas que não estão mais conosco; a saudade da vida que vivíamos, tão mais livre e (até certo ponto) despreocupada do que a de agora.
Seja como for, a verdade é que a saudade é sempre uma dor. Nós podemos transformá-la em poesia, em canção, podemos floreá-la, enaltecer sua beleza, reforçar seu vínculo com o amor, mas isso não muda o fato de que ela é sempre uma dor – não importa quão bela e quão intensa seja a nossa saudade.
Saudade é um desejo ardente de tangibilizar aquilo que acabou, que não está, que já foi… Um perfume, um sabor, um toque, um momento, uma pessoa. Dizem que a saudade é o amor que fica de alguém ou de algo que já se foi, o que certamente dói muito – afinal, você ficou com o amor, enquanto o outro se foi, o momento passou, o perfume desapareceu, a paisagem se desfez, o sol sumiu.
A saudade está fundamentalmente ligada ao luto, à perda de momentos e pessoas que foram bons e que, agora, não existem mais. Aliás, há quem tenha saudade até do que foi ruim (o que pode ser muito perigoso, já que revela uma tendência de supervalorizar o passado, dando lhe cores e formas que nunca teve).
E, verdade seja dita, a saudade mais doída, certamente, é daqueles que partiram e, portanto, a quem nunca mais veremos. É a vontade de voltar no tempo para um último abraço, um último conforto, uma última palavra de carinho, um último “eu te amo” (ou, quem sabe, uma última bronca ou última gargalhada). Nós até tentamos, mas nunca estamos preparados para nos despedir daqueles a quem amamos.
Como disse, saudade é uma dor e uma dor que não tem cura. Por isso, só há um caminho possível para esse sentimento: acostumar-se a ele e fazer com que ande de mãos dadas com a nossa gratidão.
Saudade é intraduzível
Enquanto me preparava para produzir este artigo, descobri que a palavra “saudade” só existe com esse significado no nosso idioma. Aliás, segundo uma pesquisa britânica realizada com mais de mil tradutores, “saudade” é a 7ª palavra mais difícil de ser traduzida no mundo. E eu acredito que sim, porque, afinal, definir a saudade é difícil até mesmo para nós, que aprendemos esse conceito ainda pequenos e na nossa língua materna.
Eu aprendi a viver e a conviver com diversas saudades, mesmo sem nunca ter pensado a respeito do assunto. Digo, mesmo antes de saber quão complexo era seu significado, eu já tinha (e continuo a ter) saudades do meu pai, da minha sobrinha, de momentos da minha infância, do sorriso dos meus filhos pequenos, das minhas filhas adultas que moram longe, das viagens em família para a praia. Ah, eu tenho saudade de tanta coisa e de tanta gente!
E, sabe, às vezes, é tão difícil lidar com essa dor, mas aprendi algo que fez muita diferença em minha vida: a saudade se torna muito mais suportável (e, quem sabe, menos dolorida) quando lado a lado com a gratidão. Sim, porque a saudade que sinto é do que foi bom, do que foi inesquecível, do que me marcou profundamente – de tudo aquilo que tive a chance, o privilégio de viver.
Portanto, isso só pode alimentar a minha gratidão e eu sou muito grata!
Eu sou grata pela família em que nasci e pela família que construí; pelo trabalho que realizei e ainda realizo, e no qual acredito com toda a minha força; pelas vezes em que fui capaz de me reerguer dos tombos que a vida me deu e que me ensinaram muito a meu próprio respeito; pelos momentos que compartilhei com as pessoas que amo e vou amar para sempre.
Você viu?
Eu sou grata pelos sorrisos e lágrimas que pude compartilhar com tanta gente querida ao longo do meu caminho. E por todo o amor que fui capaz de receber e de sentir.
E, então, neste artigo, o meu convite é para que você se conecte também à sua gratidão.
Sentir-se grato é algo que nos devolve o sentimento de pertencimento: a partir dessa emoção, tenho uma visão horizontal das demais pessoas. Deixo de vê-las de baixo para cima ou de cima para baixo. Não sou mais e nem menos; sou igual.
Traz ainda a compreensão significativa de que, na vida, nada dá errado. Tudo o que acontece, acontece para nosso bem. Se sou grata inclusive ao que me acontece de negativo, serei capaz de entender o que está por detrás daquele mal e qual lição mereço tirar daquele acontecimento.
Quando sou grata, entro em conexão com o universo e com a positividade.
Então, nesta ocasião tão especial, permita-se sentir a saudade que já é sua, mas vá além. Tire uns minutinhos do seu dia para agradecer e, se assim quiser, prepare um ritual próprio de gratidão. O que importa é que você conte, para si mesmo(a) e para o universo, tudo aquilo que lhe aconteceu e pelo qual você se sente realmente grato ou grata.
Quais momentos da sua infância lhe trazem mais saudades?
Quais pessoas se foram e deixaram marcas profundas na sua vida e no seu coração?
Quais vitórias são tão inesquecíveis a ponto de você relembrá-las com tanto carinho?
E quais derrotas lhe ensinaram tanto a ponto de, apesar de difíceis, mexerem com sua saudade?
Não importa suas respostas. Importa que você sinta gratidão pela vida que viveu até hoje, porque, tenha certeza: tudo valeu a pena!
Um grande abraço.
Com amor e luz,

Heloísa Capelas é CEO do Centro Hoffman e, há mais de 35 anos, está à frente do Processo Hoffman no Brasil.