No último dia 23 de outubro, o INEP divulgou os números do Censo da Educação Superior 2019 e, como sempre, atraiu os olhares curiosos do mercado da educação superior.

Neste artigo, será feito um pequeno recorte sobre alguns números da educação a distância, ante a sua importância, na medida que essa modalidade de ensino vem ganhando, a cada ano, mais representatividade no âmbito nacional.

O primeiro fator, que não se pode deixar de focalizar, é o expressado pelo gráfico abaixo, onde se percebe um crescimento entre 2018 e 2019 na ordem de 19,1% que é bastante significativo, comparado ao crescimento do mercado de ensino superior como um todo, que não alcançou 2% no mesmo período.  

 ALUNOS MATRICULADOS EAD-BRASIL

Fonte: INEP
Divulgação
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Importante observar, ainda de início, que a representatividade da modalidade EAD, no montante total de alunos matriculados no Brasil, nunca foi tão alta, já se aproximando de 30%, conforme o gráfico a seguir.

PARTICIPAÇÃO EAD NO TOTAL DE MATRÍCULAS-BRASIL

Fonte: INEP
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Precisa-se ressaltar que a modalidade EAD deve crescer ainda mais quando Direito, Psicologia e Odontologia passarem a integrar, de maneira efetiva, o rol de oferta de cursos, fato que que hoje ainda não se dá.

            Avançando na análise, o resultado do Censo trouxe a grata surpresa de que os 10 maiores cursos, na modalidade EAD, em número de alunos matriculados, apresentaram crescimento entre 2018 e 2019, ao passo que, os da modalidade presencial, apenas Medicina e Psicologia tiveram percentual positivo de crescimento.

OS 10 MAIORES CURSOS EAD EM NÚMERO DE MATRÍCULAS

Fonte: INEP
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Quando o cenário é o dos ingressantes, a princípio, também é animador, isso porque, desde 2016, o percentual foi continuamente positivo. Note-se o fato - que pode ser uma preocupação - de que, em 2019, registrou-se o menor aumento percentil desde 2016. Há de se considerar que, pelo baixo ticket médio cobrado pela EAD nos últimos anos  - sendo o de 2019 o menor de todos -, já se permitiu atacar uma demanda reprimida por condições sociais e econômicas do passado, o fato de o crescimento ter sido menor em 2019, preocupa ainda mais.

Daí, inarredável a questão: qual será, de fato, o tamanho dessa demanda reprimida que, verdadeiramente, está disposta a retornar ao processo formativo superior? Até aqui, isso ainda é um mistério. Não se tem embasamento suficiente para se dar resposta a esse questionamento, devendo-se acompanhar atentamente os resultados dos próximos anos, para se tentar entender isso. 

            O gráfico a seguir revela o exato crescimento no número de ingressantes, ano a ano e demonstra como o interregno 2018-2019 foi pior que os antecessores.

 INGRESSANTES X MATRICULADOS EAD BRASIL

Fonte: INEP
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Saindo do terreno da euforia para o da atenção, inevitável tecer considerações sobre dois fatores, o primeiro, que pode ser chamado de RENTABILIDADE DE POLOS e o segundo, a EVASÃO. A evasão ainda tem um desdobramento, que é o que venho chamando de ESFORÇO PERDIDO DE CAPTAÇÃO, ou seja, quanto do investimento feito na captação de alunos está, de fato, sendo desperdiçado com a evasão ainda muito alta

            Para se entender o assunto relativo à rentabilidade de Polos de Apoio Presenciais, o ponto de partida é se analisar três aspectos. O primeiro deles, o ticket médio da EAD, que, segundo a Consultoria HOPER, vem caindo anualmente, saindo de R$ 298,00, em 2017, para R$ 260,00, em 2019. O segundo ponto, é o número de polos em funcionamento no Brasil, que cresce em escala galopante desde 2017 (após a entrada em vigor dos Decretos Presidenciais nºs 9057 e 9235), saindo, segundo o INEP, de 7.050, em 2017, para 16.135, em 2019, um aumento de 129% no período. O terceiro e último fator a se observar é o número de alunos matriculados na EAD no mesmo período, que, em 2017, era 1.756.982 e, em 2019, registrou 2.450.264.

            Apenas um parêntesis, como observou-se um aumento de 129% no número de polo, contra 39% no número de matriculados, claro está o aumento agressivo da concorrência, que passa, em última análise, a ser o maior fator de derrubada do ticket médio.

            Voltando-se para a rentabilidades dos polos, dividindo-se o nº de alunos matriculados em 2017, pelo número de Polos em funcionamento no mesmo ano, tem-se uma média de 249,2 alunos por polo. Multiplicando-se esse resultado pelo ticket médio da EAD em 2017, obtêm-se como resultado o valor de R$ 74.261,60, que seria o faturamento médio bruto por Polo no Brasil em 2017.

            Quando se repete essas operações com os indicadores de 2019, chega-se ao valor de R$ 39.483,65, que seria o faturamento médio bruto por Polo em 2019. Uma queda, em dois anos de mais de 50% no faturamento médio. Evidentemente que isso gera perda de qualidade na oferta da ponta, pois os polos, que muitas vezes não são próprios da instituição ofertante, vivem exclusivamente desse faturamento e, nem sempre, encontram saída para o paradoxo de se verificar aumento constante no número de matriculados contra queda significativa de receitas.

            Mas isso não é tudo.

            Há, ainda, como relatado, o problema da evasão, que sempre foi um entrave na  EAD. Os motivos são diversos e conhecidos, mas o fato é que as instituições ainda não conseguiram combater, de maneira eficiente, essa dificuldade.

            O quadro abaixo mostra que o percentual de evasão média por valor agregado, defendida em (Silva Filho, R.L.L et al. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, v.37, n. 132, p. 641-659, 2007) sempre esteve em crescimento. Mesmo tendo uma discreta melhora entre 2018 e 2019, o fato é que 51,86% de evasão ainda é um número elevadíssimo.

Fonte: INEP
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Fonte: INEP


A evasão aqui considera a EVASÃO EM NÚMERO DE ALUNOS, dividida pelo número de MATRICULADOS ESPERADOS (número de matriculados do ano anterior menos o número de concluintes do ano anterior).

            Essa conta leva a uma evasão de 820.469 alunos em 2018 e de 924.558 alunos em 2019. Embora, em números de alunos, a evasão de 2019 tenha sido maior do que a de 2018, o percentual de evasão média por valor agregado acaba determinando um percentual levemente menor em 2019, provavelmente em função do maior número de ingressantes em 2019.

            Mas a maior preocupação não está nesse ponto.

            Quando se faz um confronto entre o número de alunos perdidos pela evasão no ano e o número de alunos captados no ano, conforme o quadro a seguir, vê-se que o problema é bastante grave. É o já citado Esforço Perdido de Captação.

Fonte: INEP
Divulgação
Fonte: INEP


A constatação é que as instituições estão perdendo quase 60% de seu esforço de captação, pela evasão registrada no mesmo ano.

            Isso exige que as instituições quantifiquem esses valores monetariamente, para poder acrescer ao seu custo de captação por aluno, tudo para não se confiar em um custo de captação por aluno irreal, que pode comprometer, em muito, o desenvolvimento dos negócios, mormente pelo valor das mensalidades praticadas para a EAD.  

            Dessa forma, num cenário cada vez mais competitivo, conclui-se que a EAD, ao mesmo tempo em que revela, a cada ano, uma capacidade de crescimento considerável nas matrículas, continua amargando um percentual imenso de evasão, fazendo com que a maior parte do esforço de captação das instituições seja perdido. Isso desvenda um desafio hercúleo para as instituições de educação superior, que é o de se ter um modelo de negócio que trabalhe com ticket médio cada vez menor, mas que seja capaz de reduzir evasão e criar formas de se rentabilizar os seus Polos de Apoio Presenciais condizentemente. Caso esse desafio não seja vencido pelas instituições, a EAD pode sofrer, no futuro, dias turbulentos de ofertas sem qualidade, pouco atrativas e deficitárias.

Diretor de Regulação e Procurador Institucional (PI) na Grupo Ser Educacional
Arquivo Pessoal/ Paulo Chanan

Diretor de Regulação e Procurador Institucional (PI) na Grupo Ser Educacional


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