Fogo por toda parte, milhares de espécies de fauna e flora dizimadas pelas chamas fora de controle. Depois de outros desastres que impressionaram o mundo nos últimos anos, os incêndios vieram para nos assustar ainda mais, afetando países como Brasil, França, Estados Unidos e Austrália. Naturais ou criminosos, os eventos reacendem a discussão sobre medidas de preservação do meio-ambiente.
Na Austrália, incêndios florestais que começaram em dezembro de 2019 destruíram quase 20 milhões de hectares. Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia já teve uma área de mais de 1,2 milhão de hectares incendiada. Aqui no Brasil, a Amazônia registrou recentemente diversos focos de incêndio, mas o que impressiona é o Pantanal, celeiro de grande diversidade biológica, que já perdeu mais 10% de sua cobertura vegetal apenas em 2020. A seca na região contribui para o aumento dos focos, mas a Polícia Federal trabalha com a hipótese de ação criminosa e investiga propriedades locais. Se comprovado o crime, é preciso haver punição exemplar.
Desde a década de 1930, com a promulgação do primeiro Código Florestal, o Brasil foi evoluindo na questão da preservação ambiental e chegou a ganhar papel de liderança em fóruns internacionais, como na Convenção da Diversidade Biológica que foi assinada durante a ECO-92. Apesar de todos os esforços e melhorias, as políticas públicas ainda não eram capazes de combater as queimadas criminosas, nem mesmo os incêndios espontâneos decorrentes do calor e da seca – estes, sazonais.
Nos últimos dois anos, no entanto, o Ministério do Meio Ambiente perdeu atribuições, reduziu participação da sociedade civil e flexibilizou a fiscalização ambiental. O reflexo é sentido agora: milhões de animais e plantas carbonizados, perda irreparável para o bioma. As suspeitas de que alguns focos tenham começado por iniciativa criminosa acende uma luz de alerta, ressaltando a importância do controle da atividade agropecuária de forma que economia e meio ambiente se desenvolvam concomitantemente. É preciso agir. Os esforços públicos existem, é verdade, mas ainda aquém do necessário – devemos reconhecer que não é fácil controlar uma crise sanitária e uma ambiental ao mesmo tempo.
O agronegócio brasileiro é um dos setores mais fortes de nossa economia e, como tal, deve ser valorizado e desenvolvido. O que não significa, na contramão, destruir a natureza. Por vezes, a ganância imediatista turva uma visão de futuro, de que precisamos deixar um Brasil sustentável para as próximas gerações. Técnicas de manejo sustentável, com legislações fortes e fiscalização bem feita se fazem, cada vez mais, condições para que possamos manter um país “bonito por natureza”, como canta Ben Jor. Queimar a mata é queimar nosso futuro.