Lilian Primo Albuquerque

Adeus ano velho, feliz ano novo....

Uma retrospectiva dos assuntos que foram destaque na área da tecnologia em 2024

Hoje é dia de relembrar com vocês as principais notícias da área de tecnologia que vimos no ano de 2024. Esse ano foi bem agitado, desde um implante no cérebro de um ser humano, até um “ bug ” do milênio atrasado.

Já começamos o ano tendo o “Galaxy Unpacked”, evento da empresa Samsung, onde à maioria dos usuários do sistema Android assistiram ao lançamento dos novos modelos de smartphones da empresa Sul Coreana. Vale lembrar que a Samsung é a marca de celular Android mais vendida no mundo todo, incluindo o Brasil, e que tem ditado as tendências do mercado de smartphones nos últimos anos. Porém esse ano as atenções do evento estavam voltadas para o “Galaxy AI”, o pacote de soluções otimizadas por Inteligência Artificial que teve sua estreia na nova linha de smartphones da empresa. Entre os destaques dessas ferramentas com inteligência artificial temos um editor mágico para fotos, tradutor simultâneo em ligações, teclado inteligente e uma função para circular a tela do seu smartphone e pesquisar diretamente de forma rápida e prática.

Mas, se temos novidade no Android, também temos novidades no iOS, o sistema operacional usado nos iPhones. A Apple demorou 6 meses após o lançamento da Samsung para apresentar uma resposta ao “Galaxy AI”. Chamado de “Apple Intelligence”, estará disponível para a nova versão do iOS 18. A ferramenta da empresa concentrará os recursos na assistente virtual “Siri”, que apesar de já ser presente muitos anos nos smartphones, não era tão usada. A assistente será capaz de interagir com mensagens, e-mails, calendários e aplicativos de terceiros. O recurso vai se adequar à rotina do usuário para fornecer uma experiência completamente personalizada, podendo gerenciar notificações, escrever textos automaticamente e até resumir mensagens de e-mails e outros apps. Vale lembrar que o lançamento da “Apple Intelligence” fez a Apple voltar a ser a empresa mais valiosa do mundo, superando a rival Microsoft, que estava em primeiro lugar há seis meses.

A empresa META, do bilionário Mark Zuckerberg, que controla as redes sociais Instagram e Facebook, além do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, também não quis ficar de fora. Tivemos o lançamento do “Meta AI” e está disponível no seu WhatsApp, Instagram, Facebook, além de poder ser usado no seu navegador.  O Meta AI pode auxiliar em construções de textos, podendo criar artigos curtos, poemas, diálogos, biografias e roteiros. Basta escrever o que você precisa que a inteligência irá criar, assim como feito no já famoso ChatGPT. Além disso ela pode fazer revisão de texto, correções gramaticais, além de sugerir palavras e ajudar na organização de ideias. Está sem ideia do que cozinhar, basta clicar no círculo azul e rosa da IA e pedir uma receita que ela procura para você.

Porém toda essa facilidade das inteligências artificiais de nos ajudar e ser uma solução personalizada para cada pessoa, nos fez lembrar das questões de privacidade; e foi justamente com a empresa Meta e o Brasil que tivemos um problema envolvendo a privacidade dos usuários. A empresa havia atualizado os termos de uso de seus aplicativos, permitindo  postagens públicas dos usuários no treinamento dos sistemas de inteligência artificial generativa da empresa. Isso gerou uma preocupação grande de como iriam ser tratados esses dados coletados pela empresa. Porém o governo agiu rápido e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) ordenou a suspensão da política, apontando que a coleta de dados dos usuários desrespeita a legislação brasileira e ressaltando “dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais”. Porém, agora no final do ano, a ANPD e a META firmaram um acordo, autorizando a empresa a atualizar a política, desde que cumprisse um "plano de conformidade". Nesse plano está previsto facilitar a opção do usuário se opor a participar da coleta de dados, inclusive de forma automática e simples, pois atualmente era muito complicado encontrar essa opção e, mesmo quando você encontrava, havia uma dificuldade para efetivar a sua não aderência ao programa de treinamento de IA. Agora, além de mais simples, a META envia e-mail confirmando que o usuário optou pelos seus dados não serem coletados para treinamento de IA.

Aproveitando que estamos falando da META, ela nos fez lembrar de outro problema que enfrentamos no mundo digital: saber se uma imagem é real ou foi gerada por uma inteligência artificial. Para facilitar um pouco a vida do usuário a Meta passou a identificar imagem gerada por inteligência artificial (IA) que apareça em suas redes sociais Facebook, Instagram e Threads. A empresa passou a usar a sua própria inteligência artificial, chamada Meta IA, para realizar essa tarefa. As imagens que foram detectadas com uso de IA passaram a ser marcadas com uma etiqueta digital informando que se trate de uma imagem gerada por inteligência artificial. Nesse mundo onde o “fake” e o real está cada vez mais difícil de identificar essa é uma medida que pode ajudar um pouco.

Inclusive não é apenas com imagens que teremos que nos preocupar se é real ou não, a empresa OpenAI, conhecida por ser a criadora do ChatGPT, apresentou esse ano para o público a SORA, sua nova inteligência artificial capaz de gerar vídeos a partir de textos ou de imagens estáticas existentes. Agora, além de não sabermos se uma imagem é real, duvidaremos também se os vídeos que recebemos são reais. É claro que já tínhamos inteligências artificias que criavam vídeos a partir de textos, porém esses vídeos nos causavam uma sensação chamada “vale da estranheza”. Principalmente quando tínhamos rostos humanos nos vídeos claramente dava para ver que não era um ser humano. Porém parece que a SORA resolveu esse problema. Mas, se você ficou curioso com o resultado gerado, vale a pena entrar no site da própria OpeanAI e conferir os vídeos de demonstração no seguinte endereço: https://openai.com/index/sora/.

Atualmente fica difícil confiar em nossos olhos para saber se uma coisa é real, mas e se eu te falar que também não poderemos confiar em nossos ouvidos? Pois a OpenAI também apresentou este ano a nova ferramenta chamada “Voice Engine”. A ideia é que, com apenas 15 segundos da voz de uma pessoa, a inteligência artificial possa clonar a voz. Imagine a preocupação, em tempos WhatsApp, você receber uma mensagem de um parente seu pedindo alguma coisa e ser um golpe? Mas você pode estar pensando, isso vai afetar apenas as pessoas famosas que já possuem vídeos com sua voz para ser copiada; será mesmo? Você nunca postou um vídeo na internet? Ou mesmo se não postou e se alguém te ligar fingindo vender alguma coisa e gravar a sua voz por 15 segundos? Essa preocupação não é apenas das pessoas. A própria OpenAI não deixou a ferramenta disponível para uso até que medidas de segurança sejam tomadas. Em um comunicado ela informou que "Reconhecemos que gerar fala que se assemelha às vozes das pessoas apresenta sérios riscos, que estão especialmente em destaque em um ano de eleições" e concluiu dizendo que "Estamos envolvendo parceiros dos Estados Unidos, governos, mídia, empresas de entretenimento, educação, sociedade civil e outros setores para garantir que estamos incorporando seus feedbacks conforme construímos". Imagine a combinação dessas ferramentas de geração de vídeo e de voz juntas, sem um controle adequado. Isso seria um perigo para a sociedade já tão digitalizada.

Inclusive esse ano pudemos testar essa nova dependência digital. Lembra que na virada de 1999 para 2000, ouviu muito se falar do famoso e temível “Bug do milênio”. Mesmo em um tempo em que a tecnologia estava começando a crescer, muitos países e empresas tinham medo de que à meia noite uma falha global poderia afetar todos os sistemas e as redes mundiais, principalmente de bancos, setores de energia, telefonia e aviação. Explicando bem resumidamente o problema, nessa época os sistemas de computadores usavam apenas os dois últimos dígitos para simbolizar cada ano, ou seja, o ano de 1999 era usado apenas o número 99. Agora o que aconteceria quando o ano fosse 2000? O computador guardaria na memória a informação 00, porém ele entenderia que estaríamos no ano de 2000 ou de 1900? Mas o que isso afetaria na prática? Imagine que você vai viajar e seu voo é para o dia 01/01/2000. Ao chegar no guichê para fazer o check-in aparece que você chegou muito cedo para o voo, pois para o computador, seria 01/01/1900. No mínimo os sistemas das companhias áreas travariam. Felizmente, na época, não tivemos muitos problemas, a maioria dos sistemas funcionou bem ou fizeram correções a tempo para não acontecer nada de grave. Mas, na sexta-feira do dia 19 de julho de 2024, vimos o que poderia ter acontecido na prática se o “Bug do Milênio” tivesse ocorrido de fato. A famosa e icônica tela azul do Windows pode ser vista em vários telões pelo mundo, principalmente em aeroportos. Uma falha global afetou inúmeras empresas pelo mundo todo, sendo os setores aéreo, financeiro e saúde os mais afetados. Vimos cenas inusitadas pelo mundo todo, como da empresa aérea IndiGo, que é considerada umas das maiores companhias aéreas da Índia, realizando a emissão dos cartões de embarque de forma manual para minimizar os prejuízos e tentar manter as suas operações funcionando. Vale lembrar que, apesar de vermos a famosa tela azul do Windows travada espalhada no mundo, a empresa em si foi uma das maiores vítimas. A responsável possuía um nome bem menos conhecido pelo público em geral, e se chama “Crowdstrike”, dona do software chamado “Falcon”, que causou essa pane mundial, após uma atualização. Essa falha foi tão icônica que o próprio bilionário Elon Musk escreveu no X (Antigo Twitter): “É a maior falha de TI de todos os tempos".

E, por falar em Elon Musk, o conhecido bilionário dono do X (Antigo Twitter), SpaceX, Neuralink e a Tesla, daria para escrever um artigo de retrospectiva apenas sobre ele neste ano. Ele estava nos holofotes, desde ter implantado um chip em um cérebro humano, ter brigado com o TSE brasileiro e ter sido peça chave nas eleições americanas. De forma resumida vamos começar falando da empresa Neurolink, uma startup fundada por Musk em 2017, que fez seu primeiro implante cerebral em um ser humano. O chip foi chamado de Telepathy, o que em uma tradução livre para o português significa telepatia e funciona da seguinte forma: o chip processa ondas cerebrais que são decodificadas por um aplicativo da Neuralink que, por sua vez, consegue comandar aparelhos eletrônicos de acordo com os desejos dos pacientes. O primeiro paciente foi Noland Arbaugh de 29 anos, tetraplégico que após o implante passou a poder jogar videogame, navegar na internet, postar em redes sociais e mover o cursor em seu laptop, segundo a agência Reuters. Porém a empresa não parou por aí, em um Podcast, Musk revelou que um segundo paciente humano recebeu com sucesso o chip cerebral em agosto deste ano e disse: "Não quero azarar, mas parece ter corrido muito bem com o segundo implante. Há muito sinal, muitos eletrodos. Está funcionando muito bem".

Porém não é só de inovação que vive Elon Musk. O bilionário é conhecido no mundo todo por se envolver em polêmicas e esse ano parece que ele deu uma atenção maior para o Brasil. A briga envolveu a rede social X (Antigo Twitter), da qual atualmente Musk é dono, e o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). A briga entre os dois se acirrou em abril deste ano quando Musk questionou em uma publicação do ministro Alexandre o porquê de "tanta censura no Brasil", além de indicar que iria descumprir ordens judiciais brasileiras a respeito de bloqueios de alguns perfis do X, feitos pelo STF. Essa declaração fez o bilionário ser adicionado como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento. O clima foi esquentando durante o ano e teve seu ápice quando a rede social X fez um comunicado informando que: “para proteger a segurança de nossa equipe, tomamos a decisão de encerrar nossas operações no Brasil, com efeito imediato. O serviço X continua disponível para a população do Brasil”. Como a rede social não possuía mais representação no Brasil, não havia indicado um representante legal e seguia ignorando ordens da justiça Brasileira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal determinou a suspenção do X no Brasil. Essa suspensão durou quase dois meses. A rede social só voltou ao ar após indicar um representante legal que responda pela rede em território nacional e pagar as multas impostas.

Parece que Musk gostou de se meter na política. Apoiou e participou de forma ativa na eleição do Republicano Donald Trump. Após a vitória dos Republicanos na eleição americana, Musk foi convidado para liderar um novo Departamento de Eficiência Governamental. Segundo anunciou o próprio Donald Trump, esse departamento terá o objetivo de "desmantelar a burocracia governamental", impulsionar "uma reforma estrutural em larga escala" e cortar gastos. Após anúncio Musk publicou na rede social X que "todas as ações do Departamento de Eficiência Governamental serão publicadas on-line para haver máxima transparência" e ainda escreveu frases como "Tornando o governo divertido novamente!" e "As pessoas não têm ideia do quanto isso vai fazer diferença". Resta saber se essas medidas serão divertidas para quem.

Neste ano realmente tivemos muitas notícias na área de tecnologia. Poderia me estender por horas e horas sobre outros assuntos, como o crescimento do BlueSky, as novas regras das Bets on-line, como tivemos inúmeros novos golpes usando a tecnologia, porém quero encerrar com uma menção honrosa de uma notícia que me fez relembrar um pouco da minha adolescência e acredito que a de muitos aqui, quando começaram a usar a Internet em meados do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. O ICQ foi um dos primeiros serviços de mensagens instantâneas para os computadores, tendo encerrado suas atividades neste ano. Apesar de não usar essa ferramenta já há alguns anos, essa notícia deixa um sentimento de nostalgia, ao se despedir de um “antigo amigo”, que nos acompanhou pelas madrugadas a fora em muitos momentos de diversão. Hoje, sendo mãe, lembrar dessa época me traz uma grande nostalgia de quando comecei meus primeiros passos na Internet ainda discada.

O final do ano nos faz repensar e relembrar das coisas que vivemos. Deixo aqui meu “feliz ano novo” para todos vocês leitores e que 2025 nos traga muita saúde e alegria, e com muita tecnologia.

Deixo aqui para vocês um trecho de Mário Quintana, para refletirmos:

“Para sempre é muito tempo. O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.”

Mário Quintana - Poeta, tradutor e jornalista brasileiro.