Janguiê Diniz

PNAD Educação: país avança, mas desafios persistem

Brasil registrou avanços importantes no último ano, mas tem de enfrentar barreiras estruturais ainda existentes

Os dados da PNAD Educação 2024, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , mostram avanços significativos obtidos pelo país nos últimos anos. Por exemplo, a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais caiu para 5,3%, o menor valor da série histórica iniciada em 2016.

Esse resultado revela um esforço contínuo de garantir à população brasileira o acesso à educação básica. Contudo, não dá para ignorar o fato de que mais de 9 milhões de cidadãos e cidadãs seguem sem dominar os códigos (que não deveriam ser secretos) da leitura e da escrita.

Hoje, 99,5% das crianças de 6 a 14 anos estão matriculadas no ensino fundamental, apontando para a quase universalização escolar nessa faixa etária. Entretanto, o ensino médio continua sendo um gargalo. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, apenas 93,4% frequentam a escola. Em um país continental como o nosso, qualquer ponto percentual representa um contingente enorme de indivíduos. Segundo o IBGE, 8,7 milhões de jovens com idades entre 14 e 29 anos não haviam completado o ensino médio em 2024.

Vale ressaltar que a conclusão do ensino médio é um passo essencial na trajetória educacional de qualquer indivíduo. Essa etapa representa não apenas o encerramento da educação básica, mas também a porta de entrada para o ensino superior, onde se ampliam as possibilidades de crescimento pessoal e profissional. Afinal, cursar uma graduação significa aumentar significativamente as chances de empregabilidade, renda e qualidade de vida, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento de habilidades críticas, autonomia e visão de futuro.

Nesse sentido, um dado que merece ser celebrado consiste no aumento do número de pessoas com educação superior completa: entre os adultos com 25 anos ou mais, o índice subiu de 19,7%, em 2023, para 20,5%, em 2024. Não há dúvida de que o avanço de quase um ponto percentual no período de um ano é reflexo de políticas públicas de inclusão, como o ProUni e o Fies, mas, também, da expansão substancial da educação a distância.

Um dos resultados mais expressivos da PNAD Educação diz respeito ao perfil dos ingressantes na educação superior: 72% são provenientes da rede pública de ensino. Embora esse número possa parecer um reflexo direto do fato de que 86,8% das matrículas da educação básica estão concentradas em escolas públicas, ele vai além. Trata-se de uma evidência concreta de que o Brasil tem avançado na inclusão de estudantes das camadas sociais menos favorecidas. E esse progresso não seria possível sem a participação decisiva do setor privado de educação superior, que responde por quase 80% das matrículas e tem desempenhado um papel fundamental na democratização do acesso à graduação.

Apesar dos avanços, diversos desafios persistem. Por exemplo, o recorte dos dados por raça destaca graves desigualdades. Enquanto 37,6% das pessoas brancas com idades entre 18 e 24 anos estudavam e 37,4% estavam na etapa ideal para a faixa etária, entre as pessoas pretas ou pardas a taxa de escolarização foi de 27,1%, com 20,6% na etapa ideal. Além disso, 6,2% dos brancos haviam concluído a graduação, contra 2,9% dos pretos ou pardos.

Para os próximos anos, o Brasil precisa avançar em pontos como consolidar a inclusão no ensino médio, ampliar o acesso à educação superior e investir na formação docente. Além disso, as políticas educacionais devem garantir que o ingresso se traduza em permanência e qualidade, para que avancemos também em índices que não são medidos pela PNAD, como as avaliações nacionais e internacionais às quais são submetidos nossos estudantes.

Neste momento, o país debate o novo Plano Nacional de Educação (PNE), documento que consolida diretrizes, objetivos, metas e estratégias para os próximos dez anos. Mais do que um retrato do momento, os dados da PNAD Educação apontam direções que devem orientar a construção desse plano, revelando onde os esforços têm surtido efeito e onde ainda é preciso avançar. Assim, incorporar essas informações ao novo PNE é essencial para garantir que as políticas públicas da próxima década sejam ainda mais efetivas, inclusivas e comprometidas com a qualidade da educação em todo o território nacional.

Em síntese, o Brasil registrou avanços importantes no último ano, com destaque para o crescimento do acesso à educação superior e a redução do analfabetismo. No entanto, para que esses progressos se consolidem e se ampliem, é indispensável enfrentar as barreiras estruturais ainda existentes. O direito fundamental de cada brasileiro à educação não se encerra na efetivação da matrícula. É imperativo garantir uma trajetória educacional com equidade e qualidade em todos os níveis de ensino.