Por Cynthia Pereira, Diretora de R&D na NotCo
Em outubro de 2022, entraram em vigor as novas regras de rotulagem nutricional estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O objetivo da mudança é ajudar o consumidor a compreender melhor as informações presentes nos rótulos dos alimentos; por isso, as empresas precisaram implementar as alterações para produtos inéditos já a partir da vigência das normas e, no caso daqueles lançados antes da data, o prazo de adequação foi de um ano.
Ou seja, muitas marcas passaram por um longo processo de adaptação neste intervalo de tempo e, mesmo depois de 12 meses, ainda há passos importantes a serem dados. Isso acontece não só pela proposta da Anvisa em si, mas, principalmente, porque também existe uma demanda crescente do público por informações claras sobre o que estão comprando.
Primeiramente, devemos entender o quanto os rótulos precisam trazer elementos essenciais de comunicação entre os produtos e os consumidores. Dessa forma, é de extrema importância que todos os dados sejam bem colocados e elucidativos, tanto para orientarem uma escolha adequada dos alimentos como para estarem de acordo com a nova tabela.
A metodologia adotada para alcançar o objetivo foi a de selos frontais, que chamam a atenção para ingredientes que podem ser perigosos se consumidos em grande quantidade. Em resumo, essa solução, que já é muito adotada em outros países, destaca quatro atributos negativos dos alimentos para alertar os consumidores acerca de seu consumo: alto em açúcar adicionado, alto em gorduras saturadas e sódio.
A ideia é que esse alerta auxilie as pessoas a se atentarem sobre a saudabilidade das suas dietas, seja ela composta por ingredientes naturais ou industrializados. Portanto, dentro dessa lógica, acredita-se que o aviso acerca do consumo excessivo desses itens pode ser útil no momento de escolher o que comprar para a rotina alimentar.
De toda forma, estamos falando de uma informação complementar. Ou seja, o selo é válido, mas o consumidor ainda precisa entender como compor sua alimentação ao longo do dia e não apenas retirar alimentos que podem conter alto teor de gorduras saturadas e afins; afinal, é possível que um alimento não apresente nenhuma rotulagem frontal e, ainda assim, tenha uma baixa densidade nutricional.
Novos designs de embalagens
Outra solução que já vem sendo implementada por algumas empresas para cumprir as exigências da Anvisa é a adoção de novas abordagens de design de embalagens, que comuniquem melhor os benefícios nutricionais e os ingredientes de cada produto. Geralmente as alterações acontecem de duas maneiras:
Uma delas é para produtos indulgentes, de consumo não diário, como sorvetes. Nesses casos, é possível que a decisão tenha sido a de não alterar a fórmula e apenas adequar o rótulo da maneira como corresponde.
A outra é para produtos de consumo diário e/ou, sempre que houver a possibilidade, realizar uma reformulação para manter baixos níveis de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio.
Tecnologia como aliada
A tecnologia também é uma grande aliada para liderar essa agenda de reformulação. Na NotCo, por exemplo, usamos uma Inteligência Artificial (IA) para avaliar a situação de cada produto, sempre visando atender a demanda dos consumidores de maneira adequada às normas da Anvisa. Assim, podemos entender com clareza se o melhor caminho é, de fato, reformulá-lo ou apenas adaptar a embalagem de acordo com as novas regras.
Isso é possível pela capacidade da ferramenta de analisar a estrutura molecular de produtos de origem animal e, depois, replicar em receitas totalmente à base de plantas. O resultado é a criação de alimentos 100% plant-based, mas com sabores, texturas e densidades nutricionais idênticas aos de alimentos que utilizam animais em sua produção.
O que podemos esperar para o futuro?
A jornada de conscientização sobre a alimentação não é curta e simples, então a adaptação às novas regras da Anvisa deve andar lado a lado com a demanda do mercado em levar transparência aos ingredientes. Com mais clareza e qualidade nas informações sobre valores nutricionais e composição dos produtos em comercialização no Brasil, poderemos ter um futuro que mescle o aquecimento da indústria a uma tomada de decisão de consumo responsável.