Os investimentos na área de treinamento corporativo estão crescendo gradativamente nos últimos anos, assim como o interesse de novas empresas em implantar uma cultura de aprendizagem com seus colaboradores. Segundo o relatório de 2023 do World Economic Forum sobre o futuro do trabalho, em termos de investimento em recursos humanos, o mais importante investimento para os 5 próximos anos, está na educação e na aprendizagem "on the job" (durante o trabalho).
Nesse cenário, para a especialista Constanza Hummel, CEO e fundadora da Building 8, uma das maiores referências em treinamento e desenvolvimento corporativo, é preciso saber aproveitar esse novo momento. “Ser ‘insanamente estratégico’, um conceito que gosto de aplicar quando falo a respeito do cenário de treinamento e desenvolvimento, tem a ver com liderar a transformação na organização e não somente responder às demandas estratégicas da companhia”, explica.
A executiva listou cinco tópicos imprescindíveis que devem ser seguidos, caso a empresa queira investir em uma estratégia sólida de treinamento corporativo:
Leitura de cenário interno e externo
“Ao compreendermos elementos internos, como resultados atuais, ambição, visão e imperativos estratégicos, é possível identificar pontos fortes e áreas de melhoria. Isso permite um alto alinhamento com o aprimoramento ou aquisição das competências críticas, garantindo que o plano possa suprir lacunas de habilidades e promova o desenvolvimento dos talentos internos”, afirma a executiva.
Para mais, a especialista aponta que estar atento ao ambiente externo permite antecipar desafios e oportunidades, que podem influenciar as necessidades de capacitação da equipe. “Apesar de ser meio óbvio que ter leitura do cenário interno é relevante para o treinamento corporativo, também se faz necessário compreender o cenário externo, pois envolve o monitoramento dos fatores externos que impactam as organizações, como o mercado e suas tendências, avanços tecnológicos, riscos e oportunidades, jornada do cliente, concorrência e políticas governamentais”, explica.
Clareza e diagnóstico
Para a executiva, o maior objetivo de ter um momento de clareza e diagnóstico é a geração de insights pós leitura de cenários, além de compreender fortalezas e fraquezas em relação ao objetivo de alavancar o negócio.
“É importante realizar o mapeamento de competências gerais, considerando upskilling - processo de aprimoramento de habilidades e conhecimentos dos colaboradores em suas áreas de atuação atuais - e reskilling - processo que proporciona aos colaboradores aprimoramento de novas habilidades e competências diferentes de suas funções atuais -, evitando sobreposição de soluções”, complementa.
Definição de impacto e identificação de gaps e alavancas
“Seguindo ordem cronológica, nesse momento, ao invés de definir objetivos de aprendizagem, se mostra mais estratégico definir o impacto que queremos gerar em toda cadeia de valor, pois a partir disso é possível entender a transformação necessária para atingir os objetivos estratégicos da organização, além de auxiliar na amplitude e força para a conquista de recursos”, elucida a especialista.
Nesse cenário, as alavancas se definem como o que a empresa já tem ou faz bem para auxiliar no impulso para atingir esse impacto definido. Para além disso, é importante analisar as competências em destaque no mercado, que auxiliaram nessa trajetória. De acordo com o "Future of Jobs Report", divulgado em maio de 2023 pelo World Economic Forum, as competências para serem desenvolvidas pelas organizações e indivíduos nos próximos cinco anos incluem pensamento analítico; pensamento criativo; resiliência, flexibilidade e agilidade; motivação e auto-consciência; curiosidade e lifelong learning.
Plano de ação, KPIs e engajamento de sponsors
“Um plano de ação, KPIs (indicadores-chave de desempenho) e o engajamento de sponsors desempenham papéis-chave na eficácia e sucesso das iniciativas de capacitação dentro de uma organização”, diz Constanza.
Segundo a executiva, um plano de ação bem estruturado que delineia objetivos, atividades, recursos, pessoas e cronograma para implementar iniciativas de treinamento e desenvolvimento. Já os KPIs são métricas quantificáveis que medem o desempenho e o progresso das iniciativas de treinamento e desenvolvimento e o impacto definido. “Eles fornecem dados objetivos que podem ser usados para comunicar o impacto dos programas de treinamento e somam ao planejamento no objetivo de tornar o treinamento mais assertivo”, explica.
Por fim, os sponsors, ou patrocinadores, são líderes, tomadores de decisão na organização ou pessoas que podem influenciar positivamente a jornada de aprendizagem definida e, com isso, o envolvimento desses personagens é fundamental para demonstrar a importância estratégica do treinamento, alocar recursos adequados e criar uma cultura de aprendizado contínuo na empresa.
“A combinação desses três elementos cria uma sinergia poderosa que impulsiona o sucesso das atividades”, completa a especialista.
Comunicação estratégica e engajamento de stakeholders
Os stakeholders são todas as partes interessadas envolvidas direta ou indiretamente com a organização, incluindo funcionários, clientes, fornecedores, investidores, entre outros.
“Engajar esses stakeholders no processo de treinamento e desenvolvimento é fundamental, pois garante o apoio financeiro e logístico para a implementação dos programas de capacitação, legitima os programas de treinamento, mostrando que as iniciativas são valorizadas por diferentes segmentos da organização, além de ser essencial para a sustentabilidade dos programas de treinamento, pois promove a cultura de aprendizado a longo prazo. É importante pensar em ações de engajamento por stakeholder, pois as ações variam muito de um cargo para outro”, explica a CEO.
Mas, para isso, segundo a especialista, é importante também estabelecer uma comunicação estratégica entre todos os funcionários, pois garante clareza na forma hora de transmitir os objetivos, benefícios e metas dos programas de treinamento para os colaboradores. “Isso ajuda a garantir que todos entendam a importância do desenvolvimento pessoal e profissional e como ele contribui para os resultados da empresa. Além disso, uma comunicação estratégica eficaz motiva os colaboradores a participarem ativamente dos programas e é peça fundamental para o engajamento”, finaliza Constanza.