“As mulheres precisam ser mais bem posicionadas em TI”, avalia Lilian Primo
Executiva atua na área desde a adolescência e sempre se viu em ambientes majoritariamente masculinos, realidade que ela contesta
Por Redação Instituto Êxito |
Lilian Primo Albuquerque entra em uma sala de reuniões, e se vê como a única mulher em um ambiente de homens. Se ela se intimida pela situação? Não. A cena se tornou comum para ela – o que não significa que a executiva de tecnologia concorde com esse status quo. Pelo contrário. Para Lilian, a presença feminina no mercado de tecnologia precisa ser impulsionada e só pode trazer benefícios a todo o ecossistema.
Lilian é hoje vice-presidente de Tecnologia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac); além de vice-presidente do Conselho Consultivo do Instituto Êxito de Empreendedorismo e executiva de Negócios da IBM. Uma carreira que começou lá atrás, quando ela ainda sonhava ser veterinária. As oportunidades que identificou durante sua vida, no entanto, mostraram-na que o caminho da tecnologia seria o mais adequado – caminho esse trilhado com dedicação e principalmente resiliência, palavra que, como ela mesma conta, veio descobrir apenas mais recentemente que já praticava desde nova, conforme ia validando seu espaço em empresas de tecnologia, ambientes sempre muito masculinos.
Família empreendedora
Filha de pais comerciantes, Lilian teve o estímulo empreendedor já dentro de casa. “Meu pai veio do Nordeste e começou a trabalhar em um restaurante no aeroporto de Guarulhos. Depois de um tempo, decidiu que queria ter seu próprio negócio e montou uma pizzaria”, lembra. Ela cresceu nesse ambiente, ajudando os pais desde criança – “Eu achava prazeroso estar ali”. O tino para os negócios se desenvolveu ainda aos 10 anos, quando ela ganhava do irmão o ticket alimentação que ele recebia, trocava por dinheiro e comprava coisas para vender em frente à pizzaria da família. Foi seu primeiro empreendimento. “Não deu muito certo, mas eu tentei empreender. Fato é que eu sempre emprestava dinheiro aos meus irmãos, com certos juros”, recorda, ressaltando que até hoje guarda o cofrinho vermelho onde depositou as primeiras moedas – quem sabe uma lembrança de como tudo começou para motivar a seguir em frente.
Lilian tem em seus pais exemplos de empreendedorismo. Hoje, o pai empreende na área da construção civil, mas não abandonou a pizzaria: há um apego emocional ao negócio original da família. “Para mim, não importa quanto você consegue, você tem que tentar conseguir. Meu pai é um modelo de alguém que não tinha nada e conseguiu construir as coisas dele”, pontua.
Carreira
A trajetória de Lilian Primo Albuquerque em TI, pode-se dizer, começou aos 15 anos. Ali, ela já tinha concluído um curso de informática e foi chamada para ser monitora no mesmo curso, mas acabou como professora. Daí em diante, foi se aprofundando. Ganhou uma bolsa de estudos para a certificação internacional CCNA, da Cisco Systems. “Em um ano e sete meses de curso, eu era a única mulher entre 25 homens”, conta. Tornou-se posteriormente também professora desse curso. Deixou desejo de cursar Medicina Veterinária para entrar na faculdade de Sistemas de Informação.
A maior parte de sua vida profissional, Lilian exerceu na IBM, onde está há 15 anos e já passou por nove posições. Começou como estagiária, passou por áreas de operações, vendas e gerência, até chegar ao cargo de executiva de Negócios. Pela empresa, também teve oportunidade de realizar trabalho voluntário na Índia, desenvolvendo ações de consultoria para ONGs locais.
A executiva ressalta que muito do conhecimento que obteve na vida veio em cursos gratuitos. “É possível se capacitar gratuitamente. O conteúdo está lá, é gratuito, vá atrás, tente fazer. Você não vai conseguir tudo de uma vez, mas, se for aos poucos, consegue”, pontua, citando o Instituto Êxito de Empreendedorismo, no qual atua, que fornece uma plataforma online com mais de 200 cursos gratuitos em diversas áreas do empreendedorismo.
Você viu?
Lilian segue a premissa de não ter medo de desafios. “Ao invés de a gente ter medo do leão, é melhor tentar amansá-lo”, pondera. Entrar na área de tecnologia foi uma oportunidade que surgiu em sua vida. “Se surgiu aquela oportunidade, porque não tentar fazer com que eu goste dela?”, questionou-se. E deu certo.
Nesse caminho, a resiliência foi sua principal aliada. “Se você busca um desafio, tem que estar preparado para se adaptar àquela realidade. Uma oportunidade gera um desafio, um desafio gera uma responsabilidade. Se eu disse sim, tenho que correr atrás e tentar executar”, crava.

Mulheres em TI
Mesmo já tendo uma história estabelecida no setor, Lilian ainda percebe certa resistência em alguns ambientes ao fato de ser mulher. Mas ela não liga. “Eu busco fazer o meu melhor e olhar o que eu tenho de potencial. Eu vou em reuniões que só tem eu de mulher, mas, se eu sei do que eu estou falando, não tem por que eu me melindrar. Eu mostro meu potencial”, declara. Para ela, tudo é uma questão de construção. “Você vai evoluindo e construindo seu espaço. Hoje, eu faço discussões com C-levels de empresas em termos de igualdade”, avalia.
Com sua experiência, Lilian tem propriedade para afirmar que ainda é preciso dar mais espaço às mulheres na área de tecnologia. “Ainda há poucas mulheres, o espaço é muito pequeno. As mulheres têm que ser muito mais bem posicionadas e reconhecidas. Tem muita mulher com potencial”, ressalta.
A executiva define que essa mudança de mindset precisa ser implementada nas gestões das empresas. “Os líderes têm que ter na mentalidade que é extremamente importante ter mulheres em seus times, até porque elas aumentam o faturamento, têm níveis de dedicação diferenciados, isso tem estudos que comprovam. E isso tem que vir de cima. É uma mudança de mindset, de trabalhar na valorização das mulheres. E as mulheres também precisam buscar se preparar, se atualizar, principalmente se desafiar”, conclui.
Tecnologia e futuro
Para Lilian, o mercado de tecnologia está passando por um processo de aceleração da transformação digital. “Vemos empresas que estão aumentando seus e-commerces, e para isso acontecer tem que ter a infraestrutura tecnológica por trás. Isso gera maior demanda de melhorias em processos, equipe, etc.”, cita. Segundo ela, a automação, hoje, permite que funcionários sejam alocados em posições mais estratégicas dentro das empresas, deixando o operacional para as máquinas, dentro do possível.
Nesse contexto, a inteligência artificial é uma grande aliada. “É mais uma revolução que já está acontecendo. Nós estamos gerando dados o tempo inteiro: com o áudio do celular, com fotos que tiramos, com posts que colocamos nas redes sociais. Cada vez mais, precisamos buscar a melhor experiência para o cliente, e a inteligência artificial é um meio para conhecer o cliente, porque, por meio dos dados, você consegue fazer interpretações”, explica Lilian. Com o tempo, ela avalia, a presença da inteligência artificial no cotidiano passará a ser algo natural.
Em contrapartida, a especialista se diz preocupada com o aspecto das relações interpessoais. “As facilidades tecnológicas que permitem o contato a distância são diferentes de estar próximo, de se falar olho no olho. Temos que ter isso, e temos que ter isso nas lideranças, porque, às vezes, você implanta uma gestão a distância, digital, e os funcionários podem ficar perdidos. Ela avalia que o modelo de trabalho do futuro, ao contrário do que muitos têm apregoado, não deva se tornar remoto, mas híbrido. “A presença física gera oportunidades de interação mais interessantes”, pondera.